NOTA HISTÓRICO-ARTÍSTICA

O Coreto Paroquial de Canelas localiza-se junto ao Jardim de S. João, defronte à igreja paroquial de S. João Baptista de Canelas. Trata-se de um importante e emblemático imóvel patrimonial no concelho de Vila Nova de Gaia, o ex-libris de Canelas, comprovado pela sua representação como motivo central na ordenação heráldica do brasão da freguesia. O coreto é um exemplar de arquitectura cultural e recreativa do início do século XX, numa linguagem revivalista, neo-árabe, com elementos Arte Nova.

Possui planta octogonal e cobertura em cúpula encimada por um zimbório. A base de granito tem cerca de 6 metros de diâmetro circunscrito e cerca de 1,20 m de altura, e encontra-se revestida a azulejo de tapete a branco, amarelo e laranja. A restante estrutura é em ferro pintado na generalidade em cor verde. Possui arcos polilobados decorados com pinturas de dragões (no exterior) e trilóbulos (no interior), que suportam a cúpula de oito segmentos triangulares e colunelos com figuras de oito leões em cor castanho-claro/ocre sobre os ângulos da base do octógono, em disposição similar à fonte do Pátio dos Leões, em Alhambra. A cúpula encontra-se revestida por chapas metálicas e possui resguardo perimetral decorado com cercadura trabalhada, apoiado nos colunelos por mísulas em ferro forjado. Nos ângulos do resguardo, salientam-se goteiras sob a forma de cabeças de cão em cor bege, e nas arestas da cúpula cercaduras em ferro forjado. O zimbório está também decorado com trabalhos de ferro forjado com motivos florais e musicais (liras) e é rematado pela figura de Santa Cecília, de túnica de cor rosa, empunhando uma lira. O pavimento do coreto está revestido com chapas de ferro.

A criação de um novo e digno coreto em Canelas, tendo um recorte de revista como modelo, e o financiamento da obra partiram de um canelense, João Alves de Oliveira, filho de um abastado comerciante de mercearia e Juiz da Confraria, António Alves de Oliveira. O jovem, passando por um velho emigrante no Brasil, foi subtraindo os proventos necessários à concretização do coreto ao seu próprio pai, ao qual remetia, de forma anónima, as verbas retiradas. O jovem apresentou uma cópia do projecto, orientou a construção, indicou os artistas, e providenciou a devida festividade e aparato ao evento de inauguração, a todos enganando na sua identidade, até ser descoberto pelo progenitor. O imóvel poderia ter sido construído, de acordo com informação geralmente divulgada, pela Serralharia Artística do Corvo, mas é mais provável que tenha sido concebido pela Fundição de Massarelos. As colunas do coreto estão identificadas com inscrição da Fundição Pinho das Devesas, que faria parte da Fundição Aliança, ligada à Fundição de Massarelos. O coreto é inaugurado no dia de São João, em 24 de Junho de 1907, e foi restaurado pela paróquia em 1954.